terça-feira, 3 de abril de 2012

Carta encontrada dentro do bolso de uma suicida.

O ato de “sentir” não cabe em mim. Na realidade, nada mais cabe em mim. Sou apenas mais uma pessoa abarrotada de cansaço nesse mundo. Eu disse adeus, e ninguém percebeu, como sempre. Eu sussurrei por anos e anos, que precisava de ajuda, mas ninguém foi capaz de perceber, e então resolvi dizer adeus, pobres coitados, disseram-me que eu queria apenas chamar atenção. Pergunto-me se a essa altura consegui finalmente chamar a atenção de alguem. Será mesmo? Será que para chamar a atenção de alguém eu não precisava gritar, ou chorar… Eu não precisava nem ao menos falar e sim, morrer? Lamentável. Lamentável descobrir que enquanto respirava era apenas um peso morto no mundo. Pessoas costumam dizer que a vida é bela, meus olhos nunca foram capazes de enxergar essa beleza. Meus olhos na realidade enxergaram somente a escuridão, o breu, a falta de luz. O tempo todo, o tempo todo eu só consegui ver coisas que me deixaram angustiada, triste e solitária. Mamãe, papai acreditem em mim, por favor, acreditem em mim quando digo que tentei viver. A culpa não é de vocês, nunca será de vocês, afinal entregaram-me todo o amor do mundo, algumas ausências em datas especiais, broncas sem precisão, mas nunca me negaram tudo o que eu precisava, porém eu não fui capaz de me contentar com tudo o que tive. Sei que ouviam meus soluços durante a noite, meu desinteresse pelos estudos, as marcas escuras abaixo dos olhos. Desculpem-me por não ter sido a filha perfeita, ou a garota que sonharam, desculpem-me sinceramente por não ter suportado a dor. Acho que nos últimos anos me envolvi num buraco, que pouco a pouco foi ficando mais profundo, até que então não consegui mais sair. É triste eu sei, sei que devem estar chorando a está altura, mas foi a minha decisão, vocês sempre me disseram que eu teria de crescer um dia, e crescer requer tomar decisões. Eu cresci, finalmente, eu cresci e tomei a decisão de não fazer mais parte desse mundo. Adeus; apesar de tudo eu amo vocês.

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